Noooooooooooooooooooot
Não sei se isso dura muito, mas preciso confessar que ultimamente minha palavra predileta tem sido: não. Não aquele “não” que aprendemos a falar desde pequenininhas para valorizar o nosso “passe”. Nossa mãe, avó, nosso pai, tio, amigo, irmão, vizinho. Todo mundo adora ensinar a uma mulher a importância de fazer charme e nunca aceitar nada, de sorvete a casamento, de primeira. Mas meu “não” é mais para o verdadeiro e autêntico “não” das crianças. Daqueles que vêm do fundo
da alma e da convicção. Não é nem jogo nem medo. É fácil, óbvio e transparente.
“Você quer sair comigo?”, pergunta um cara absurdamente inteligente, bonito, mas com namorada. Não. “Você quer viajar comigo?”, pergunta aquele ex-casinho com o corpo mais bonito que eu já vi na minha vida, o melhor beijo dos últimos 100 anos, mas seis anos mais novo que eu e obcecado pela “molecada da facu”. Não. “Você me dá seu telefone?”, pergunta o cara que já pediu o telefone de metade da festa. Não. Aliás, eu nem fui nessa festa. Eu disse que não.Como diria aquela música “só quero saber do que pode dar certo, não tenho tempo a perder”, eu criei uma certa casca para prazeres fugazes. Vivi 345 deles nos últimos anos e fui feliz, mas pela primeira vez sinto que não tenho mais nenhuma curiosidade a respeito.
Dizem que Buda só virou Buda porque nasceu milionário. É mais fácil abdicar de um mundo de facilidades depois que já experimentamos desse mundo em demasia. Chega.
Eu já sei como é fugir para o banheiro do restaurante. Já sei como é beijar um sem-nome, um nome famoso, o melhor amigo, o inimigo, o namorado da amiga, o amigo do namorado, o chefe, o estagiário. Já sei como é acordar em um lugar estranho. Embaçar o carro. Ir a uma festa e pensar “tirando o moço do caixa e o telão, já beijei tudo o que se mexe nesse lugar”. Nada dessas coisas têm mais graça pra mim.
Mas às vezes me pergunto se estou mesmo certa. Quando vou ao cinema com um casal de amigos que fica se pegando loucamente ao meu lado ou descubro que esfriou
no meio da noite e a manta está na parte mais alta do armário, eu me pergunto se uma aventurinha qualquer não era melhor que nada. Pelo menos te esquenta um pouco e te faz alguma companhia. E lembro do Vinícius que diz “mesmo amor que não compensa é melhor que solidão”.Mas quando uma “fraquezazinha” vem me visitar, eu encho o peito e digo minha mais recente e sonora frase: “Nãããããããããão”. Já tive aos montes pessoas que não compensam esquentando a cadeira ao lado do cinema, o banco ao lado do carro e o
travesseiro extra da cama. E nem por um minuto senti meu peito aquecido. A gente
até engana os outros de que é feliz, mas por dentro a solidão só aumenta. Estar
com alguém errado é lembrar em dobro a falta que faz alguém certo.Há um bom tempo eu resolvi que alguém certo só apareceria se eu abrisse mão de todos os errados e soubesse esperar. Resolvi que a energia para atrair alguém bacana tem que ser igualmente bacana e com tanta gente errada na minha vida eu não estava emanando coisas muito boas. Mas tomar uma decisão e segui-la do fundo da alma requer um certo tempo de adaptação. Digamos que um pouco de carência com um restinho de curiosidade tenham me feito dizer, nos últimos anos, alguns “sim” que até me divertiram, mas não levaram minha vida a lugar nenhum. Mas agora sinto que isso mudou. Não porque eu quero que mude, simplesmente porque mudou naturalmente.
Por isso, nesse restinho de ano, inspirada no final dos meus 28 anos (que fecha um ciclo) e no começo do ano 2008 (que cabalisticamente representa o número 1 e o começo de um novo ciclo) eu incorporo meu amigo Borat (quem não viu o filme precisa ver!) e respondo a todos os rapazes, amigos e empregos que não forem verdadeiros, bem intencionados e a fim de me fazer feliz : nooooooooooooooooooooot!
E um pedacinho do texto anterior, dela também:
...Eu quero sim, desde que comecei a entender mais ou menos sobre do que se trata a vida, ter um companheiro. Alguém pra contar e ouvir como foi o dia, fazer carinho, ter vontade de dormir junto, viajar junto, envelhecer junto, crescer junto. Essas coisas românticas que todas as mocinhas e todo mundo, no fundo, no fundo, quer. Ou ao menos vai querer um dia.
Mas desejar essa pessoa é diferente de estar matando cachorro a grito a ponto de pegar o primeiro que aparece. Se eu quisesse estar com qualquer um só pra mostrar pra todo mundo que qualquer um me quis, eu estaria namorando ou casada com várias “espécies” que passaram pela minha vida e até deixaram algo bacana, mas não tinham absolutamente nada a ver comigo: médico interiorano que não me deixava usar batom; poeta frustrado que fazia tudo parecer um filme romântico e na hora de fazer sexo o filme virava a comédia “O piloto sumiu”; playboy americanizado que só falava nos EUA e se vestia como aqueles turistas bobos da Flórida; intelectuais tão intelectuais, mas tão intelectuais que nenhum emprego do mundo era suficiente e eles viviam vendo “Vale a pena ver de novo”; misteriosos que só se faziam de misteriosos por medo de alguém desistir se visse o que tinham por dentro... e por aí vai.
Tudo bem que eu sou muito crítica e realmente não existe a pessoa
mais perfeita do mundo. Mas alguém para merecer o outro lado da sua cama não deveria lhe causar, no mínimo, admiração, tesão, felicidade, paz e vontade de passar o resto da vida ao lado? E isso não se encontra fácil assim, pelo menos eu ainda não encontrei. E, pelo o que eu pude observar na festinha desanimada dos meus inimigos secretos, boa parte deles ainda não tinha encontrado também, apesar deles posarem de bem-sucedidos no amor por medo, justamente, de chegar sozinho a um amigo secreto.Isso e muito mais aqui
FELIZ 2008!