Oh céus. O Dia do Orgasmo passou em branco neste blog, numa clara demonstração de que a nossa vidinha anda no mais completo marasmo.
Mas enfim, pra mostrar que esta que vos fala é uma pensadora absolutamente ligada com as questões contemporâneas, comecei a escrever lá em maio um rascunho de texto intitulado "A Pegada". Dizia o seguinte:
"Não foi preciso simpósio, congresso, convenção ou teleconferência pra se estabelecer o mais absoluto consenso: a gente gosta mesmo é de homem com pegada.
O que não é consenso é que precisamos de alguns quilômetros rodados pra perceber isso.
Gentileza é tudo na vida: literalmente, abre portas, estende a mão, cuida de nós. Mas na hora do vamos ver, quem é que quer gentileza?
A gente quer mesmo é aquela mão firme nas costas, aquele braço enlaçando sem pestanejar, os dedos enroscados nos nossos cabelos - curtos ou longos, que diferença faz pra quem tem pegada?
Quem de nós quer alguém pedindo licença? 'Posso te dar um beijo no pescoço?' 'Posso morder a tua orelha de leve?' 'Posso te encostar nessa parede?'
Nah. O negócio é mandar ver. Depois a gente vê no que deu, recolhe os mortos e feridos, bota band-aid e pancake que resolve."
Arquivei para momento oportuno.
E eis que o momento oportuno piscou na minha cara no Globo de sábado, eu acho.
Matéria intitulada "Elas querem é pegada", de autoria de Graça Magalhães-Ruether, correspondente em Berlim:
"A mulher, mesmo a emancipada, gosta de ser subjugada sexualmente pelo homem." A declaração é da precursora do feminismo na Alemanha, a psiquiatra e psicanalista Margarete Mitscherlich, hoje com 90 anos, que acaba de participar do 45. Congresso da Associação Internacional Psicanalítica, que termina hoje em Berlim. Foi o primeiro encontro do gênero realizado na Alemanha desde a SEgunda Guerra Mundial.
Logo depois de pronunciar a frase polêmica, Margarete ri e pede um favor: - Não me interprete de forma errada, o que eu disse é complicado, porque não significa que a mulher goste de um homem bruto que a violente. Mas ela gosta, sim, de um homem que mostre, de maneira forte, que está interessado nela.
As conclusões ela tirou durante as décadas em que atendeu mulheres e homens em seu divã no Instituto Sigmund Freud, fundado por ela e o marido Alexander Mitscherlich, morto em 1982, com quem ainda escreveu "A incapacidade para o luto", um best-seller que foi a primeira obra a se ocupar com a psique dos alemães depois da guerra. Apesar da idade e de um andador que usa para caminhar, seu rosto tem aparência jovial. A mente nem se fala. Margarete ainda dá palestras e garante que faz três sessões de análise por semana, no Instituto fundado por ela, que fica perto da sua casa.
Especialista no legado de Freud - "ele foi genial porque foi o primeiro a descobrir que as pessoas têm uma psique, que as mulheres gostam tanto de sexo quanto os homens, o primeiro feminista", diz - ela acha o pai da psicanálise ainda bastante atual. Explica que, na sociedade machista que existia antes da teoria freudiana, a mulher precisava, pelo menos nas impressões que deixava transparecer, gerar seus filhos como se fosse "uma imaculada".
E hoje? Margarete Mitscherlich, que foi recentemente autobiografada por duas jornalistas alemãs, defende uma certa característica "animalesca" nas relações sexuais, desde que ocorra por interesse livre dos dois.
Mas esse homem capaz de se import sexualmente - com uma bela pegada, como se diria no Brasil - é um animal ameaçado de extinção. Para a famosa psicanalista no entanto, a culpa não é do feminismo que tanto analisou ao longo de sua vida, mas sim de uma tendência geral da sociedade, que está se "feminilizando".
- Os homens estão cada vez mais adotando qualidades positivas da mulher, como cordialidade, paciência, compreensão, piedade.
Isso é bom, mas não para o sexo.
E segue.
Me senti uma vanguardista de primeira.
Meninos. Se liguem.