"Áries e Touro: É uma espécie de tourada às avessas. O papel do Touro é amansar o Carneiro. É claro que o ariano sempre precisa de uma certa vibração em suas relações, mas também não lhe cai mal a boa dose de estabilidade que o touro pode lhe proporcionar. Ele só deve ter muito cuidado para não enfurecer demais o pacato Touro - um taurino demora a reagir, mas, quando explode, reduz o ariano a um indefeso carneirinho." (do horóscopo do Terra)
- Eu descobri que sou um monstro!
- Tá, e a novidade, qual é? Disso eu sei e não é de hoje.
- Ha. Engraçadinha. A astróloga que me disse que eu era um monstro. Áries, ascendente em Áries, lua em Leão.
Tremi. Primeiro: esse monstro fez um mapa astral. Segundo: levou a sério. Terceiro: sim, meus parcos conhecimentos horoscopais me berravam que saísse dali rápido - eu estava diante de um monstro legítimo, morador resoluto dos recônditos cantos debaixo da minha cama e das minhas lembranças.
É. O mundo dá voltas, pára sempre no mesmo lugar... mas muda, às vezes.
Foi preciso que uma década se passasse desde o nosso primeiro encontro pra coisa tomar os rumos dos finalmentes.
Da primeira vez, os dois pirralhos birrentos. Um carneiro e uma novilha, que combinação mais desastrosa. Não teve pasto verde o suficiente para aplacar a fome de dois ruminantes furiosos e o romance juvenil durou dois meses. Exatos, como bem convém a uma taurina prática que conta o tempo que falta para explodir.
Da segunda vez, os dois jovens demais para morrer assim, num revivalzinho besta, coisa de pós-adolescente. Durou pouco, nem tão intenso que valesse a contagem do tempo taurino. E desapareceu no ar, como um bom aroma do campo que permanece na memória, fresco e tenro, alecrim, macela e algum perfume bom.
Da terceira vez, sete anos e muitas garrafas de qualquer coisa alcoólica depois, touro e carneiro se reencontram.
Eu falei garrafas de coisa alcoólica?
Nada mais acertado. Depois de litros intermináveis de solvente de superegos correndo durante sete anos nas veias, só podia dar no que deu.
Deu num vento campeiro que ninguém mais sentiu correndo numa pista de dança abafada, aquele cheiro de grama molhada da madrugada que só bons ruminantes conhecem. Depois vieram outros cheiros: desodorante de carro, lençol limpo, cabelo molhado, (mais) cigarro.
E ruminantes, como bem sabemos, não articulam, não falam, não manifestam. Aparecem, batem cabeça, quebram os chifres e somem, como todo bom monstro que mora debaixo das nossas camas e mais dia menos dia vai voltar, só pra dar o ar da graça.
terça-feira, 24 de abril de 2007
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2 comentários:
Fantastico!!! :)
meu problema eh com os leoninos. Ah, os leoninos... :)
beijos!
Mas fófis, sinta-se em casa p/ escrever sobre eles. Aliás, amo felinos, mas detesto essa raça também.
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