domingo, 19 de agosto de 2007

Mutante

Queria ser mais mulherzinha, dessas de forno e fogão, dessas que dão xilique, que fazem ceninhas de ciúme, fazem beiço, choram e fazem manha. Queria ter o talento de fingir que sou pura e santa até lá pelo terceiro ou quinto encontro - não é essa a regra? - mesmo já estando subindo pelas paredes depois da primeira pegada de jeito, queria poder dizer "tira a mão" e que isso soasse natural e até bonitinho. Queria parecer frágil, inspirar respeito e cuidado.

Ao contrário disso, eu não faço cena, não sou santa, não poso de ingênua. Se tenho vontade, vou lá e faço, seja o primeiro ou décimo encontro. Pra que hipocrisia de fingir que "ai, hoje não"? Pra que joguinhos? Não sei, nem nunca soube blefar. Aí quando o sujeito chega e diz: "olha, quero ficar solteiro, vamos com calma." Eu digo "claro, tu tem todo o espaço do mundo e eu também, o que tiver de ser será". Mas pelo jeito a atitude blefe deveria ser "o queeee? entaõ tá, tchau pra quem fica", dar as costas e contar até dez, que o mancebo viria correndo. Mas não sei fazer isso.

Engraçado que a maioria dos homens diz que queria ter ao lado, uma mulher independente, que gostasse de sexo e não tivesse medo de demonstrar isso, uma mulher que fosse decidida, que não pressionasse e que não fizesse drama. E realmente, das experiências que tive, elogios não faltaram. Me admiram, me têm como referência, aprendem comigo e voltam sempre. Mas casam com as mulherzinhas que fazem beiço, donzelas que precisam de cavalheiros que as salvem e cuidem delas.

Será que ser verdadeira assusta os homens? Será que não depender deles e não ter medo de mostrar o que quer e o que sabe deixa eles inseguros? Poxa! Eu também queria ser cuidada! Também queria um cavalheiro que me salvasse, sem ter que fazer teatrinho para conseguir isso. Cansei de ser amante, admirada, mas descartável. Cansei de ouvir impropérios como "eu te adoro, tu é insubstituível, a melhor de todas nisso ou naquilo, mas tu não é namorável". E não, não pensem que eu sou uma vagabunda, vulgar ou qualquer coisa assim. Sou uma dama sim, mas não finjo ser donzela e isso, pelo jeito, dá medo neles. Será que eles temem a comparação? Temem não serem bons o bastante? Temem não serem realmente necessários e então abandonados? Aquela coisa de "melhor chutar do que ser chutado"...

when i said ' I can see me in your eyes,
you said 'I can see you in my bed


Cansei. Quero alguém que me cuide, de verdade, que me deixe ser vulnerável e não me machuque por isso. Mas não quero ter que fingir ser o que não sou ou lançar mão de joguinhos para conseguir isso. Será tão difícil? Precisa ser um homem de verdade, que tome as rédeas sem medo e sem se sentir intimidado, sem que para isso eu tenha que me fragilizar artificialmente.

Sit me down
Shut me up
I'll calm down
And I'll get along with you



!@#$%^&*()
O CONTRAPONTO

Seguinte: as culpadas somos nós, mulheres.
Somos nós que educamos nossos homens para quererem para si clones de suas mães. E a boa mãe não trepa! A boa mãe lida com a sexualidade do filho do modo mais maternal possível até que Édipo seja tão-somente aquele personagem do Felipe Camargo que o fez casar com a Vera Fischer.
A boa mãe é dócil, e cozinha, e arruma a cama, e dá remedinho na doença, e controla as namoradas do filho. Entendeu? AS NAMORADAS. A mãe é santa e pura e casta e fica de olho nas vagabundas que são sempre um produto do que há do lado de fora do recôndito do lar.
Do mesmo modo, somos nós, mulheres, que educamos nossas mulheres para continuar perpetuando esse comportamento. Ainda criamos nossas meninas num modelo repressor. Liberdade sexual? Bah-lela. Parafraseando umas jornalistas que li, boas meninas não confessam que estão no cio.

Um comentário:

Anamein disse...

juro que ouvi ao fundo...

"Hush now baby, baby, don't you cry.
Mamma's going to check out all your girlfriends for you,
Mamma won't let anyone dirty get through,
Mamma's gonna wait up until you get in.
Mamma will always find out where you've been,
Mamma's gonna keep baby healthy and clean.
Oooh babe, Oooh babe, Oooh babe,
You'll always be baby to me."